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PAT PLANALTO SUL APOIA CADEIA PRODUTIVA DO PINHÃO, A CONSERVAÇÃO DE ESPÉCIES E O SUSTENTO DOS EXTRATIVISTAS NA SERRA CATARINENSE

A Floresta Ombrófila Mista (FOM), como é chamada a floresta de araucárias, é um ecossistema do Domínio da Mata Atlântica que ocupava originalmente 200 mil km² nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, mas

A propriedade de 40 hectares abriga uma floresta de araucárias (Araucaria angustifolia) que tem sido mantida em pé ao longo de gerações da sua família graças à atividade de manejo extrativista do pinhão. “A cultura do pinhão na minha família é mais que centenária. Lembro que meu avô tirava pinhão para tratar porcos no verão”, conta Jaison de Liz Rosa.

A inexistência de mercado até os anos 90, permitia que as sementes da araucária chegassem fartamente aos cochos, mas estavam sempre presentes na culinária de povos originais, como os indígenas, e tradicionais, como os agricultores familiares. “O prato básico era a paçoca socada no pilão com carne, que se fazia para sair pros matos. Meu pai ainda sabe fazer o café de pinhão, que é descafeinado, o mesmo sabor, mas mais suave, como uma cevada”, compara. Cuidados com esse ecossistema significam a conservação de florestas do belíssimo e alimentício pinheiro-brasileiro, que é habitado por rica fauna, incluindo o endêmico papagaio-charão, que todo ano empreende migrações do Rio Grande do Sul até à serra catarinense em busca das araucárias durante o período de maturação do pinhão.

A Floresta Ombrófila Mista (FOM), como é chamada a floresta de araucárias, é um ecossistema do Domínio da Mata Atlântica que ocupava originalmente 200 mil km² nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, mas que hoje é gravemente ameaçado de extinção, com remanescentes em apenas 1% a 4% nas áreas originais. A conservação e restauração dessas florestas na serra catarinense fazem parte das estratégias para conservação de espécies ameaçadas de extinção elaboradas no âmbito do Plano de Ação Territorial para Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção do Planalto Sul-PAT Planalto Sul, coordenado conjuntamente pelo Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA) e pela Secretaria Estadual do Meio Ambiental e Infraestrutura do Rio Grande do Sul (SEMA) e conta com a parceria do Centro Vianei de Educação Popular, que tem atuado pela implementação da cadeia produtiva do pinhão e geração de renda para famílias agricultoras que há décadas têm hábitos alimentares, cultura e renda com fortes vínculos nesse ecossistema.

O PAT integra o Projeto Estratégia Nacional para a Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção -Pró-Espécies: Todos contra a extinção, coordenado pelo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), tendo o WWF-Brasil como agência executora e o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) como agência implementadora. Devido à importância econômica do extrativismo do pinhão em consonância com a conservação da biodiversidade, em 2022, foi promovida pelo PAT Planalto Sul e executada pelo Centro Vianei a elaboração do Plano de Ação para potencialização da Cadeia Produtiva do Pinhão, contando com diversas entidades.

“Neste projeto com o PAT Planalto Sul, em aproximadamente um ano foram desenvolvidas atividades bastante importantes, entre elas destaco o diagnóstico, o seminário e a oficina participativa recentemente realizada com integrantes da cadeia produtiva do pinhão para discussão qualificada das prioridades que serão desenvolvidas neste Plano de Ação e que estão sistematizadas e serão divulgadas por meio de um e-book que está em confecção”, relata Natal Magnanti, Engenheiro Agrônomo e coordenador de projetos do Centro Vianei de Educação Popular.

De acordo com o diagnóstico da cadeia produtiva do pinhão, existem cerca de 12 mil famílias que colhem pinhão no Planalto Serrano Catarinense, sendo que para 30% delas essa é uma das principais fontes de renda. Essas famílias são responsáveis por aproximadamente 75% da produção de pinhão do estado de Santa Catarina. A comercialização do pinhão para essas unidades familiares chega a 50% da renda total dos seus Sistemas Agroflorestais (SAF) tradicionais e as araucárias dividem espaço com outras espécies, tais como: frutíferas nativas (uvaia, araçá, goiaba serrana entre outras), erva-mate, bracatinga, canelas entre outras espécies.

É importante frisar que as ações do plano para fortalecimento da cadeia produtiva estão de acordo com as demandas dos extrativistas, e entre elas, Natal Magnanti cita a expectativa de manejo sustentável. “Juntamos pesquisadores, extrativistas e o PAT no mês de maio no município de Painel. Essa oficina foi realizada por meio de um projeto de pesquisa da UFSC campus de Curitibanos, coordenado pelo professor Alexandre Siminski, para discutir as estratégias de manejo de araucárias e como serão conduzidas unidades de referência de manejo para aumentar a produção de pinhão nos próximos anos.” Ele observa que será necessário observar as legislações de proteção às araucárias. “É uma espécie ameaçada de extinção, com corte proibido, tem que haver estratégias bem pensadas”.

Para Leonardo Urruth, coordenador executivo do PAT pela SEMA-RS, o extrativismo do pinhão na serra catarinense é das atividades econômicas melhores adaptadas à conservação dos ecossistemas naturais, pois “permite a conservação da floresta em pé, e gera benefícios socioambientais para as comunidades envolvidas”.

Segundo Luthiana Carbonell, coordenadora do PAT Planalto Sul (IMA-SC), o Plano de Ação para potencialização da cadeia produtiva do pinhão está finalizado e agora busca parcerias para sua implementação, com auxílio de recursos oriundos do Projeto Pró-Espécies. “A atividade de extrativismo do pinhão necessita de um olhar atento do poder público e da sociedade, pois os frutos deste trabalho beneficiam as comunidades envolvidas, mas também a conservação de um ecossistema ameaçado e deixa um legado para as gerações futuras”, finaliza Luthiana Carbonell.