NOTÍCIA

ARAUCÁRIA! Teu nome é RESISTÊNCIA!

A história evolutiva das araucárias se entrelaça com a própria evolução dos vegetais, há milhões de anos atrás, quando as plantas passaram a dominar a superfície do planeta (FERRI, 2019).

Por: Rui Alvacir Netto – Gestor de Projetos no Centro Vianei.

No final do período Permiano (que teve início a 299 milhões de anos) ocorreu a terceira e maior extinção em massa na história do planeta Terra, que por pouco não dizimou a vida no planeta: estimativas apontam que até 95% de todas as espécies desapareceram. É a única que se sabe ter atingido até mesmo animais considerados mais resistentes, como os insetos, e todos os seres vivos hoje existentes descendem justamente dos apenas 4% que sobreviveram à apelidada “Grande Morte”. O desastre foi tamanho que demorou 50 milhões de anos para a biodiversidade se recuperar em terra e 100 milhões de anos no mar (ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 2009; TOMASSI, 2011; SANTOS, 2022).

A flora que surgiu após a “Grande Morte” é caracterizada pelo surgimento e pela proliferação das coníferas, que se tornam as plantas dominantes a partir deste período e se mantém até o período Cretáceo, quando se dá a proliferação das angiospermas (MARTINS-NETO, 2006; CARNEIRO et al., 2015).

A história evolutiva das araucárias se entrelaça com a própria evolução dos vegetais, há milhões de anos atrás, quando as plantas passaram a dominar a superfície do planeta (FERRI, 2019). 

A araucária é um gênero arbóreo das coníferas, seu crescimento dependente da profundidade e da fertilidade do solo, são capazes de alcançar mais de 35 metros de altura no seu habitat (KÄFFER, 2017). Mas se há algo notável neste gênero, é a sua longevidade. 

A araucária é conhecida como um fóssil vivo, de fato, há provas de que existe desde a Era Mesozóica (ou seja, uns 251 milhões de anos). Portanto, muito, muito tempo (CARVALHO, 2012; FERRI, 2019).

Fósseis de araucárias primitivas de Faxinal do Soturno (RS) devem ser representantes do último momento em que os grupos de coníferas que hoje apresentam grande porte ainda eram arbustivas (RAMOS, 2023).  

Pelo tamanho de seus lenhos, esses exemplares de primitivas araucárias estavam mais para arbustos do que para árvores de grande porte. Sua altura era de cerca de 2 metros e os troncos tinham entre 15 e 20 centímetros de diâmetro e se parecem anatomicamente com formas primitivas de araucária descobertas na Índia e na Argentina, que viveram entre o final do período Permiano e o Triássico Superior (entre 260 e 200 milhões de anos). 

Por mais de duas centenas de milhões de anos, a terra abrigou e se encarregou de preservar os vestígios de um ser primitivo.  Entretanto, fósseis de araucárias com aproximadamente 220 milhões de anos atestam a transição dessa espécie para árvores de grande porte (CARVALHO, 2012; CERVATO & FRODEMAN, 2015; RAMOS, 2023).

A Araucária resistiu e sobreviveu à fragmentação do supercontinente Pangeia com início no período Triássico, há, aproximadamente, 230 milhões de anos (PRESTES, 2006; LAMANA, 2009).

Provavelmente, a Araucária sobreviveu à quarta extinção em massa: no fim do período Triássico (cerca de 205 milhões de anos), onde novamente uma grande variedade de répteis dominavam a terra e os oceanos. As marcas da Grande Morte, no entanto, ainda estavam presentes, e estes animais em nada lembravam os que existiam no Permiano. Não havia grandes predadores. Árvores coníferas primitivas também já tinham se desenvolvido, assim como os sapos, lagartos e até mesmo os primeiros mamíferos (CARVALHO, 2012; EVANS, 2020; OLIVEIRA et al., 2020). 

A Araucária sobreviveu, também, a quinta extinção em massa: O fim dos dinossauros: A mais conhecida e estudada extinção em massa, ocorreu no fim do período Cretáceo, há 65 milhões de anos, e foi responsável pelo desaparecimento dos dinossauros. Praticamente todos os animais terrestres com mais de cinco quilos de massa foram dizimados (CERVATO & FRODEMAN, 2015; FERRI, 2019; BIERNATH, 2022). 

No Brasil, até o século XIX a área original, de formato irregular nas regiões Sul e Sudeste, o ecossistema original da Floresta Ombrófila Mista, ocupava cerca de 20 milhões de hectares (200 mil km2). A Araucária distribui-se nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, em aproximadamente 25%; 40% e 31% de suas superfícies, respectivamente. Também ocorre em manchas esparsas no sul de São Paulo (3%); e no sul de Minas Gerais e Rio de Janeiro, em áreas com altitude superior a 500 metros (1%) (ALMEIDA, 2008; (LIEBSCH et al., 2009).   

Contudo, nos últimos 120 anos, (num reduzido fragmento de tempo diante da vida das Araucárias) essa maravilha da natureza foi levada,  graças a insensatez humana, a condição de “Espécie ameaçada de extinção”.

Á Araucária, símbolo máximo da resistência e da generosidade, manifesto a minha solidariedade, o meu respeito, e a minha admiração!

Rui Alvacir Netto.

Tabelas do tempo.

Tabela 1: Do início do Universo (13,5 bilhões de anos)  até 1908

o ano do início da grande destruição.

Acontecimento Tempo estimado* Comparado a 1 ano 

(365 dias)

Big Bang 13.500.000,000 anos 365 dias
Formação da Via Láctea 13.000.000.000 anos 351 dias
Formação do Sistema Solar 4.600.000.000 anos  124 dias
Formação da crosta terrestre 4.500.000.000 anos 121 dias
Surgimento dos Procariontes 4.000.000.000 anos 108 dias
Início da existência das Araucárias 250.000.000 anos 6 Dias, 18 horas
Primeiras espécies humanas (Homo erectus) 2.000.000 anos 1 hora,  17 minutos
!908 Início da grande destruição 120 anos 16,8 milésimos de segundo

* Aproximadamente

Tabela 2: Do início da formação da crosta terrestre (4,5 bilhões de anos) até 1908...o ano do início da grande destruição...

Acontecimento Tempo estimado* Comparado a 1 ano 

(365 dias)

Formação da crosta terrestre 4.500.000.000 anos 365 dias
Surgimento dos Procariontes 4.000.000.000 anos 324 dias
Início da existência das Araucárias 250.000.000 anos 20 Dias, 6 horas
Primeiras espécies humanas (Homo erectus) 2.000.000 anos 3 horas,  53 minutos
1908 Início da grande destruição 120 anos 50,45 milésimos de segundo

* Aproximadamente

 ¹São assim chamadas porque suas sementes têm a forma de cones ou pinhas. Essas sementes, por sua vez, ficam expostas, sem nenhum fruto ou casca para protegê-las. As folhas geralmente são pequenas e em forma de agulha, conservando-se verdes todo o ano (Wikipédia, 2022).

 ²No Período Cretáceo (145 milhões a 65 milhões de ano), surgiram as angiospermas, caracterizadas pela presença de flores e frutos. Essas características contribuíram para que essas plantas ocupassem rapidamente diversos ambientes em nosso planeta (Wikipédia, 2022).

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, C. G. Análise espacial dos fragmentos florestais na área do Parque Nacional dos Campos Gerais, Paraná. [Dissertação de Mestrado]. Ponta Grossa: Universidade Estadual de Ponta Grossa, 2008. 74 f. Disponível em: http://tede2.uepg.br/jspui/handle/prefix/498. Acesso em: 07 mai. 2023.

BIERNATH, A. As 6 grandes extinções em massa do planeta — e por que estamos passando por uma delas agora. BBC, 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/curiosidades-63901851. Acesso em: 26 abr. 2023.

CARNEIRO, C. D. R., MIZUSAKI, A. M. P., & ALMEIDA, F. F. M. d. (2015). A determinação da idade das rochas. Terrae Didatica, v.1 n.1, p. 6-35. Disponível em: https://doi.org/10.20396/td.v1i1.8637442. Acesso em: 28 abr. 2023.

CARVALHO, M. M. X. de. Uma grande empresa em meio à floresta: a história da devastação da floresta com araucária e a Southern Brazil Lumber and Colonization (1870-1970). [Tese de Doutorado]. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2012. 313 p. Disponível em: http://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/93507. Acesso em: 06 mai. 2023.

CERVATO, C.; FRODEMAN, R. A importância do tempo geológico: desdobramentos culturais, educacionais e econômicos. Terrae Didatica, v. 10, n. 1, p. 67-79, 2015. Disponível em: https://doi.org/10.20396/td.v10i1.8637389. Acesso em: 10 mai. 2023.

ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA. (2009). Permian extinction. Encyclopedia Britannica. Disponível em: https://www.britannica.com/science/Permian-extinction. Acesso em: 02 mai. 2023.

EVANS, K. Araucariaceae: As árvores pré-históricas mais raras do mundo que sobrevivem à extinção. O Eco, [S.l.], 26 jul. 2020. Disponível em: https://oeco.org.br/reportagens/araucariaceae-as-arvores-pre-historicas-mais-raras-do-mundo-que-sobrevivem-a-extincao/. Acesso em: 10 mai. 2023.

FERRI, G. K. Araucaria Angustifolia: Botânica, Evolução e Dispersão da Espécie sob o Viés da História Ambiental Global. Ecodebate, n.3.209, Maio 2019. Disponível em: https://www.ecodebate.com.br/2019/05/24/araucaria-angustifolia-botanica-evolucao-e-dispersao-da-especie-sob-o-vies-da-historia-ambiental-global-artigo-de-gil-karlos-ferri/. Acesso em: 08 mai. 2023.

FRAGA, N. C.; ZATTA, A.; ROCHA, D. L. Nascer e morrer as margens da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande - EFSPRG:.. In: Congresso Internacional de Turismo Rural e Ruralidades – CITRR; Congresso Brasileiro de Turismo Rural – CBT; Congresso Brasileiro da Guerra do Contestado – CBGC; Semana de Geografia da UEL, 2021, Londrina. Anais eletrônicos [...]. Londrina: Universidade Estadual de Londrina, 2021. v.1, p. 175-197. Disponível em: http://anais.uel.br/portal/index.php/turismorural/article/view/1517. Acesso em: 05 mai. 2023.

KÄFFER, M. I. Estudo de líquens corticícolas foliosos em um mosaico de vegetação no sul do Brasil. Dissertação de Mestrado. 85 f. São Leopoldo, PR: Unisinos, 2017. Disponível em: http://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/2292. Acesso em: 09 mai. 2023.

LAMANA, C. X. Breve História da Terra. CPRM - Serviço Geológico do Brasil - Canal Escola, 2009. Disponível em: https://www.cprm.gov.br/publique/SGB-Divulga/Canal-Escola/Breve-Historia-da-Terra-1094.html?tpl=printerview. Acesso em: 25 abr. 2023.

LIEBSCH, D.; MIKICH, S. B.; POSSETTE, R. F. d. S.; RIBAS, O. d. S. Levantamento florístico e síndromes de dispersão em remanescentes da Floresta Ombrófila Mista na região centro-sul do estado do Paraná. Hoehnea, São Paulo, v.36, n.2, p.233-248, jun. 2009. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S2236-89062009000200002. Acesso em 30 abr. 2023.

MARTINS-NETO, R. G. Insetos fósseis como bioindicadores em depósitos sedimentares: um estudo de caso para o Cretáceo da Bacia do Araripe (Brasil). Zoociências, Juiz de Fora, v.8, n.2, p.155-183, dez. 2006. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/zoociencias/article/view/24116. Acesso em: 09 Mai. 2023.

O ECO. Entenda a classificação da Lista Vermelha da IUCN. O Eco, 06 jan. 2014. Disponível em: https://oeco.org.br/dicionario-ambiental/27904-entenda-a-classificacao-da-lista-vermelha-da-iucn/. Acesso em: 10 mai. 2023.

OLIVEIRA, T. M. d., PINHEIRO, F. L., & TUMELEIRO, L. R. K.. Sobreviventes: diversificação de Archosauromorpha após a Extinção Permo-Triássica. Terrae Didatica, v. 16, p. 1-16, mar. 2020. Disponível em: https://doi.org/10.20396/td.v16i0.8656060. Acesso em: 09 mai. 2023.

PRESTES, A. Relação Sol-Terra estudada através de anéis de crescimento de coníferas do Holoceno recente e do Triássico. 2006. 149 f. Tese (Doutorado em Astrofísica) - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, São José dos Campos, 2006. Disponível em: http://mtc-m16b.sid.inpe.br/col/sid.inpe.br/MTC-m13@80/2006/11.07.13.58/doc/publicacao.pdf. Acesso em: 26 abr. 2023.

RAMOS, M. Conversão de plantio homogêneo de Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze em floresta biodiversa, Capão Bonito, SP. 2023. 105 f. Tese de Doutorado. Universidade Federal de São Carlos, Capão Bonito, 2023. Disponível em: https://repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/17599. Acesso em: 29 abr. 2023.

SANTOS, T. Extinção em massa: as cinco maiores da história - Invivo. Invivo/Fiocruz, 2022. Disponível em: http://www.invivo.fiocruz.br/cienciaetecnologia/extincao-em-massa-5-maiores/. Acesso em: 04 mai. 2023.

SANTOS, V. S. de. Células procariontes: o que são, exemplos e resumo - Mundo Educação. Mundo Educação, [S.l.]. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/biologia/celulas-procariontes.htm. Acesso em: 22 abr. 2023.

TOMASSI, H. Z. Revisão da sucessão fossilífera global na extinção em massa do limite Permiano-Triássico. Revista de Biotecnologia & Ciência, Anápolis, v. 1, n. 1, p. 11-40, mai. 2011. Disponível em: https://www.revista.ueg.br/index.php/biociencia/article/view/16/250. Acesso em: 28 abr. 2023.

WIKIPÉDIA. Angiosperma – Wikipédia, a enciclopédia livre. Wikipédia, [S.l.], 2022. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Angiosperma. Acesso em: 06 mai. 2023.

WIKIPÉDIA. Conífera - Wikipédia, a enciclopédia livre. Wikipédia, [S.l.], 2022. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Con%C3%ADfera. Acesso em: 06 mai. 2023.