Parte da equipe de técnicos que integram o Projeto Restaurar do Centro Vianei participou do Seminário sobre Hiperdominância da Taquara e as Técnicas de Manejo e Controle da Recuperação da Floresta Ombrófila Mista, realizado na cidade de Rio Negrinho no início do mês de outubro.
A iniciativa foi da Associação Estadual de Cooperação Agrícola (AESCA) e se originou a partir da dificuldade enfrentada pela entidade diante da presença de densos taquarais em áreas destinadas à restauração florestal. Com uma enorme capacidade de rebrota, rápido crescimento e total dominância do terreno, a taquara, principalmente a espécie Merostachys skvortzovii Send., acaba impossibilitando o desenvolvimento das mudas de árvores nativas que estão no foco do projeto de restauração.
O encontro para discutir o problema com outras entidades e especialistas ocorreu na sede do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e Mobiliário de Rio Negrinho (Siticom) e teve dois dias de duração. Na abertura, o engenheiro florestal Jean Fábio Bianconcini apresentou exemplos práticos dos desafios enfrentados pela AESCA com a taquara. Após essa apresentação, na parte da tarde os participantes foram a campo para uma visita técnica.

O segundo dia foi mais voltado à troca de experiências e informações dos especialistas André Eduardo Biscaia Lacerda e Arnaldo Soares, que têm uma longa trajetória ligada ao estudo e manejo sustentável da taquara. Ambos são responsáveis por uma das mais extensas pesquisas já realizadas sobre o tema. Há 18 anos, o estudo é desenvolvido na Estação Experimental da Embrapa em Caçador (SC), e só perde em duração para uma pesquisa chinesa que tem mais de 60 anos. Em Caçador, são 1.157 hectares voltados à conversão de taquarais em florestas produtivas.
Lacerda, que atualmente trabalha para o Centro de Desenvolvimento e Educação dos Sistemas Tradicionais de Erva-Mate (CEDErva), é engenheiro florestal e ex-pesquisador da Embrapa. Soares é técnico da Embrapa Florestas. Depois de uma longa e detalhada exposição, os presentes debateram sobre o método atualmente aplicado pela AESCA frente aos conhecimentos e vivências apresentados.
Conclusões
Conforme os especialistas, a necessidade primordial do manejo de taquarais é pela sua capacidade de impedir a sucessão florestal e por manter a floresta com baixos níveis de diversidade. A planta sufoca a mata tanto acima quanto abaixo do solo.
Acima, a taquara toma todo o espaço aéreo da floresta, impedindo a entrada de luz. Abaixo, ela cria uma rede compacta de raízes que, além de serem especializadas em rebrote, ocupam todo o solo, não deixando espaço para outras raízes de outras plantas. A única espécie que consegue sobreviver a um taquaral é a bracatinga.
No entanto, por ser espécie pioneira, seu ciclo naturalmente é curto. Quando esse ciclo entra em declínio, na natureza essa seria a fase do surgimento das plantas secundárias e, em seguida, das espécies climáceas, ou seja, cumpririam-se assim os estágios naturais da regeneração florestal.
Mas não é o que acontece em áreas que têm taquarais. Com a hiperdominância da planta, que impede o desenvolvimento de outras espécies, o fim do ciclo da bracatinga significa tão somente o domínio completo da taquara e o ciclo de regeneração não acontece, tanto pelo sufocamento causado pelo taquaral quanto pela consequente baixa diversidade.
Em linhas gerais, os especialistas apontam que, sem o manejo dos taquarais, um projeto de restauração florestal é impossível. Porém, esse manejo terá que passar necessariamente por uma intervenção mais severa na primeira etapa, exigindo a eliminação das taquaras.
Os 18 anos de pesquisa de Lacerda e Soares mostram que, pela capacidade excepcionalmente rápida de regeneração, o controle do taquaral costuma ser muito difícil e caro, com grande desperdício de recursos. O conselho dos especialistas para um manejo mais eficiente é a mecanização. Somente com a área limpa não só dos caules, mas principalmente das raízes das taquaras é que o desenvolvimento das pioneiras — e, consequentemente, das sucessoras — será possível.
“O seminário foi muito importante para todas as entidades que desenvolvem trabalhos de restauração pelo chamamento público do Ibama. Conhecendo o trabalho desenvolvido pela Embrapa Florestas, que há tanto tempo estuda diferentes formas de manejo dessa espécie, todos que enfrentam problemas com a taquara poderão tomar decisões mais assertivas no manejo”, destaca a engenheira agrônoma do Centro Vianei que atua no Projeto Restaurar, Danúsia Vieira Sartori.
Para o engenheiro florestal do Projeto Restaurar Luran Monteiro Muzeka, a taquara, principalmente a espécie Merostachys skvortzovii Send., representa um verdadeiro desafio para projetos de restauração. “Tanto os esclarecimentos passados pelos pesquisadores quanto o debate com as outras entidades executoras do chamamento público, juntamente com os técnicos do IBAMA, permitiram um compartilhamento de informações e experiências de alto nível em busca das melhores estratégias em prol da restauração e melhoria da biodiversidade”, ressalta.
Junto com Danúsia e Luran, os outros técnicos do Centro Vianei / Projeto Restaurar que participaram do seminário foram Thiago de Liz Lopes, técnico agrícola, e Tamires Manoel Matias, estagiária concluinte de graduação em Agronomia.
Além da AESCA e do Centro Vianei, estavam presentes ainda representantes do IBAMA e das organizações não governamentais Mater Natura, Fundação Certi e Apremavi. As cinco ONGs integram o Chamamento Público nº 02/2018 do IBAMA com projetos de restauração florestal de áreas de Mata Atlântica em diferentes regiões de Santa Catarina.
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Este projeto é realizado com recursos do Acordo de Cooperação Técnica (ACT) no 40/2021 firmado entre AVICITECS e IBAMA.